sábado, 26 de maio de 2012



"[Rodrigo] Ana, minha querida... Dizem que o amor acaba, que o amor termina, mas não é verdade. Nada acaba, tudo dura, continua e se transforma. Enquanto eu aguardava aquela cirurgia, mil anos se passaram. As duas estavam lá dentro e eu pensava: se acontecer alguma coisa com elas eu morro. Dizem que passa um filme da nossa vida na nossa cabeça e por isso eu vi: vi vocês duas meninas, chegando na nossa casa e nós três juntos, ainda pequenos, em tantos e tantos momentos. Vi você erguendo taças, troféus. Tua imagem na revista: inacessível! Distante da criança que eu era e que você era também. Depois a nossa fuga de casa, e o nosso medo, e a nossa coragem. E o salto sem rede que tantas vezes se chama amor. Vi você indo embora, sendo levada de diferentes formas... Tantas e tantas vezes. E depois vi você voltando. E no fundo dos seus olhos, como em um rio, tudo que a gente não tinha vivido. A partir daí eu me vi dividido entre dois amores, entre duas vidas. Uma que eu estava vivendo e outra que eu jamais tinha podido viver. Durante os meus piores momentos, enquanto eu aguardava naquela sala, como se a doença da nossa filha tivesse me curado, eu entendi que não tinha mais divisão nenhuma. O que tinha sido vivido, o que tinha ficado para trás, tudo, era parte de uma mesma história, de uma mesma vida e de um mesmo sentimento: AMOR.
 E foi então que eu vi: nós dois juntos, cruzando a fronteira!
[Ana] Como se eu tivesse alcançado a outra margem de um rio. O rio onde a gente se amou pela primeira vez, o rio do meu acidente, mas sempre um rio. E porque naquele momento eu precisava ser forte! Finalmente, sem escapes, eu consegui atravessar aquele rio eterno! Como se em um instante, eu tivesse vivido todos os anos que ainda estavam parados em mim, me esperando. Do outro lado da fronteira, que sem perceber nós já tínhamos cruzado. Uma infância compartilhada, uma adolescência trocada, uma juventude não vivida! Do lado de cá: dois adultos maduros, finalmente libertos daquele fardo pesado: feito de lembranças, de sonhos antigos. Porque há novos sonhos do lado de cá da fronteira! E agora... PODEMOS VIVER!"


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