terça-feira, 3 de maio de 2011


Querido Lucas,

 Daria tudo pra ver seu rosto de surpresa nesse momento... mas mais que o rosto daria tudo pra sentir a sensação que você está sentindo agora com minha carta em mãos. Quanto tempo se passou, neste reveillon completará 3 anos de distanciamento, um distanciamento inevitavelmente necessário e que hoje talvez com minha mente mais amadurecida posso te explicar melhor os porquês e as interrogações que porventura deixei em ti desde minha partida.
 Ontem viajei para o distrito de Arganzuela e ao entrar na estação lembrei-me de ti, foi lá que nos conhecemos você fazendo curso de fotografia e eu visitando meus avós maternos, éramos tão livres... hoje me pergunto porque nos deixamos aprisionar tanto... Tenho tentado não mais me questionar sobre o que passou, éramos jovens e nos amávamos demais, hoje sei que amor demais também fere.
 Sei o quanto me procuraste, sei das inúmeras vezes que contataste meus avós aqui em Madrid, mas meu coração estava em pedaços e nesse tempo me dei ao luxo de pensar apenas em mim, deixei que o tempo se encarregasse de matar o pouco de mim em ti, querido se te ouvisse pelo menos uma vez não teria forças pra me curar de nós, ás vezes um ato de desistência é um ato de coragem, pode ser que não entendas mas fiz isso por te amar demais e por querer demais te ver feliz e há muito tempo nós já não nos fazíamos felizes.
 Durante os anos que vivemos juntos foi tudo tão intenso... hoje não sofro mais ao lembrar de ti, você me causa risos e ás vezes espanto, lembro-me de quando voltamos ao Brasil com a mala cheia de sonhos e nenhum dinheiro no bolso, foi sempre assim ‘você sonha nós realizamos!’ lembra?
 Pode ser que tudo que eu esteja te escrevendo já não faça diferença hoje, mas precisava fazer isso... precisava te dizer que sofri sem você, que você me levou partes que talvez nunca encontre novamente, que te amei da forma mais bonita e mais intensa que já amei alguém...

Da sua (espero um dia) amiga Laura



Prezada Laura,

 Realmente muito me surpreendeu sua carta, já não pensava que um dia ouviria de você novamente e há muito tempo deixei de esperar alguma explicação, há muito tempo...  talvez se essa carta tivesse chegado a 2 anos atrás eu abriria um leque de todas as minhas dores pra você mas hoje isso me parece tão desnecessário, essas dores já não me são tão latentes, mas os questionamentos sobre sua partida sem explicação vez por outra me norteiam.
 Durante um ano te procurei incessantemente... tranquei a faculdade e já não trabalhava com o mesmo empenho, minha meta era encontrar você... escrevi todas as semanas e liguei todos os dias pra seus pais, amigos enfim pra qualquer pessoa que pudesse me dizer onde encontrar você, tudo em vão. A razão sabia que era o fim o coração não.
 Lutei contra todos e contra mim, porque embora sabendo o quanto éramos perigosos um para o outro sempre confiei no amor que sentíamos... embora nossas diferenças por vezes gritassem, sempre esquecia todas elas quando nos amávamos. E quando você foi embora percebi que toda essa certeza era unilateral... era uma guerra solitária, pois você já tinha abandonado o posto.
 Pode ficar tranqüila te amei tanto que nunca consegui sentir raiva ou ódio de você, apenas tristeza... tristeza pelos seus abraços que eu não teria mais, tristeza pela sua voz que eu não ouviria mais, tristeza por nós e por tudo que sonhávamos que não existia mais...
 Hoje só desejo que esteja bem... que seja feliz, não sei de você, como você disse que foi embora para se curar de nós eu demorei mas também me curei. Hoje só sinto saudade do que não fomos, dos tantos sonhos que não concretizamos não mais de você.

 De seu (por vontade própria) distante amigo, Lucas




Nenhum comentário:

Postar um comentário